Aprendizes de grevistas
Adolescentes franceses trazem do berço gosto por protestos
Eles ainda não compreendem direito o que está em jogo na reforma das aposentadorias, mas estão fazendo a diferença ao lado dos sindicalistas durante os protestos contra o projeto de lei que visa a aumentar em dois anos o tempo de trabalho e de contribuição social, passando de 60 para 62 anos a idade mínima para a aposentadoria. Por mais que passeatas e greves já façam parte da cultura francesa, há muito tempo não se via adolescentes em peso nas ruas, como acontece diariamente há uma semana, quando eles integraram o movimento que está parando a França desde setembro.
Foto: Lúcia Müzell
Audrey, 17 anos: 'Acho um absurdo falarem que nós ainda não temos discernimento sobre política'
As palavras de ordem dos manifestantes com espinhas no rosto transbordam ingenuidade: o maior temor dos lycéens (estudantes de ensino médio) é de que tenham ainda mais dificuldade de encontrar emprego quando terminarem os estudos, uma vez que os adultos vão demorar mais tempo para sair do mercado. Como se as duas faixas etárias disputassem as mesmas vagas.
“É claro que essa reforma tem reflexos na minha vida!”, exclama a estudante Aïfa, 16 anos, inconformada com a pergunta sobre por que já está nas ruas protestando desde tão cedo. Hoje, estudantes de ensino médio e universitários organizaram sozinhos uma passeata conjunta pelas ruas de Paris, que reuniu entre 4 mil e 17 mil pessoas.
“Se os postos de trabalho em tempo integral e sem duração determinada já são raros agora, imagine se “os velhos” demorarem ainda mais para liberar vagas? Não é possível aceitar essa proposta”, disse a francesa, enquanto liderava, aos gritos, um grupo de jovens de Aubervilliers. Ao se observar a postura engajada da adolescente, mal dava para acreditar que ela recém se iniciou neste métier de manifestante – ela ficou tão à vontade que, passados três dias, Aïfa já comanda os colegas. Na terça-feira, ela participou pela primeira vez de uma protesto, e garante que foi amor à primeira vista. “Agora eu entendo por que sempre tem tanta gente. Juntos, nós nos sentimos mais fortes.”
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